Bisavô Francisco Ernesto


Há quem diga que foi sorteado o contemplado
O tiro, o acto heróico de José Júlio — «Foi um acto heróico, o do Zé Júlio!»
Fez-se História, reza assim: “Ao despedir-se a sós,
Ernesto Góis chorou e pediu que desistisse do seu intento, pois alguém se encarregaria de livrar Portugal do tirano.
José Júlio deu-lhe uma declaração defendendo a União Sagrada e pediu que a desse a conhecer depois da sua morte, pois estava certo que pereceria perto com Sidónio.»
Etc, etc, ou etcetera...
Depois há quem se interrogue :
«Como é que aquela carta estava no bolso de trás das calças?»
Passaporte para a cadeia
a verdade é que do meu bisavô Xico Ernesto
Só me ficou uma foto e uma gravura.
À imaginação trago o meu avô, a sair da adolescência
Tomando a família pelos pulsos
Olhando Hitler ao longe, Franco mais perto,
Salazar presente.
Estranguladas décadas in extremis a conseguir
Forçar, a suportar
O inclinado desvio
O beijo da morte
O cumprimento num tiro: «Foi o que foi...»
O herói da imagem, ou a imagem do herói
Pensar que tudo é melhor que nada
Vergada a coluna toda
A chegada à morte
Paralela.
